quinta-feira, 6 de outubro de 2011

DECLARAÇÃO DO VAQUEIRO


As artes dessa Natureza
São de tanto encanto,
Que engrandecem meu canto
Meu sertão de tanta grandeza!
Não a lugar que imite essa beleza
O sol escaldante trás as cores
Alumiando a terra de meus amores
Embaixo de uma arvore descascada,
O artista com sua viola abençoada,
Do seco, faz nascer às flores.
                                    
A água aqui faz falta
Mas alegria há de sobra
Pra que chorar mediante a essa obra
O messias ressalta
A salvação virá da árvore mais alta
Cacto fruta tão santa
Que a sede de nós espanta
Pássaro da meia noite
Peça a Deus que pare com esse açoite
A chuva dos meus olhos já não mais canta

Aqui nesse sertão já vivi
Muitas aventuras
Prum demais desvairadas e rimadas
Foi nessa terra rachada que me cresci
Minha mãezinha aqui quis consenti
Noite linda de São João
Venha e alegre o coração
Cheiro de canjica e cocada
Rindo nos risos da criançada
Eita Deus, que mundão

Muitos causos já me aconteceu
Me alembro do dia da Carolina
Que formosura de menina
O pai a mão dela não me ofereceu
Casar com homem que do barro nasceu?
Minha filha casa não
Esqueça vaqueiro, não é tua essa mão
O amor não tem barreira nem juízo
Enfrentei o cabra, mas saí no prejuízo
Era bom de tiro, acertou na corda do meu violão

Já trabalhei de pedreiro
Cansa muito carregar tijolo na costa
Não é uma coisa que minha mente é disposta
Hoje sou vaqueiro metido a violeiro
O bom mesmo não tem, o dinheiro
Correr atrás de boi no mato
Prefiro o tijolo, é algo mais pacato
Desisti de sofrer, agora sou poeta
Transformo a feiúra em uma bela borboleta
Sou feliz, faço de pouco um fato

Da escrita fiz minha profissão
Versando embaixo de uma sombra
Próximo aquele esqueleto que me assombra
Com minha alegria no coração
Carolina me dê a sua mão
Te peço em casamento
Vamos juntos namorar ao relento
Mas se não me quer tem quem queira
Marina, venha ser a linda roseira
Dois inimigos tão amigos: sofrimento e vento

Continuo a me declarar
Só quero que quando chegar ao final
Meu padre Ciço me dê um lugar especial
Não tem problema se ele não me amar
O que eu quero é meus pés descansar
O sertanejo não sabe que pecado cometeu,
Não sabe entender o que o Homem leu
mas até hoje continua a pagar o preço
Vou cantando pro entre esses pé de mato seco
Meus filhos verão minha terra, antes dela virar museu

Sou um típico trovador
Escrevo a minha amada
Mas ela sempre me está afastada
Me contento em agüentar a dor
Ficar somente nesse mundo de sonhador
Oh flor do sertão, me dê a vida
Diga a meu amor que ela é minha querida
Sou um poeta sertanejo solitário
Não acredito em signos, mas sou de sagitário
De tudo faço para ter no meu jardim essa margarida

Terra de pedra brilhante
Sol que minha roça castiga
Chuva que não enche minha barriga
Por que faz de mim um mutante?
Um herói distorcido do pé gigante
Um Hercules sem poder
Sem ninguém ao meu lado torcer
Um grande poeta me chama de forma estranha
Ele parece entender toda a minha entranha
Pelo menos ele me acha um ser importante

Vou parar por aqui e finalizar
Cuide bem do meu violão
Nele está a melodia dessa canção
Escuto alguém me chamar
É aquele que muito tempo quer me abraçar
Não se importa em usar preto
Ela não tem preconceito
Muito charmosa e lânguida ela é
Ansiosa ela minha alma quer
Deixo ao céu meu alfabeto. 

(Leandro Souza)

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