sexta-feira, 7 de outubro de 2011

TÔ SAINDO

  Conto escrito por Leandro Souza da Silva em 07 de outubro de 2011.
        Amanhece o dia e o menino levanta-se e vai em direção a mãe:
_Tchau mãe, tô saindo
_Pra onde?
_Vou jogar bola no campinho
_Menino, volta aqui
_Pra quê? Já vou...
_Volta.. Toma pelo menos o café
_Tchau..
_Agora vá tomar pelo menos um banho
_Não precisa, não. Vou suar, mesmo
_Larga de teimosia. Vá tomar um banho. Limpa bem as orelhas
_Tá, mãe. Já limpei.
_O cabelo?
_Também.
_Limpa bem esses pés.
_Não precisa, mãe. Vou sujá-los mesmo.
_Cuida, menino. Tô mandando.
_Pronto acabei.
_Deixo ver.
     A mãe pega um pente que estava logo ali. E continua.
_Venha cá. Esse cabelo todo bagunçado
_Não penteia, não. Deixa como tá.
_Não senhor. Onde já se viu.
_Pronto, mãe já chega. Tenho que ir
_Pra onde?
_Jogar bola
_Não senhor. Já tá quase na hora do almoço. Pode ficar
_Mas eles estão me esperando
_Eles quem?
_Meus amigos. Eles tão lá há um tempão.
_Deixa eles lá.
_Mããããe.
_Disse não
_Poxa, mãe. Assim não vou jogar.
_Mas é isso mesmo. Pronto, coma.
_Ahhhh mãe. Verdura!
_Isso mesmo. É bom pra saúde. Coma tudo.
_Cenoura? Não gosto, não.
_Pode comer. É bom pra visão. Tu não que ser goleiro? Que goleiro é esse que não enxerga?!
_Queria, né? A senhora não deixou.
_Vou deixar, assim que terminar tudo.
_Tá aí. Acabei.
_Acabou nada. E o feijão, não vai comer?
_Vou, não.
_O que?
_Hmmm que gostoso. Quer um pouco?
_Ah tá. Pensei ter escutado isso, mesmo.
_E essa abobora é pra comer também?
_É sim, meu filho.
_Pronto, mãe. Acabei.
_Certo.
_Agora, tchau.
_Ei, espera. E o suco? Não vai beber?
_Me dá aqui.
_Volte!!
_Hmmm que bom. É de que?
_Caju.
_Eca!!
_Por que eca?
_Tava bom até saber que era de caju.
_Menino, larga de besteira. É do nosso quintal.
_Eu sei, mãe. Mas é ruim.
_Filho?
_Sim.
_Sim? O que é isso? Foi essa a educação que eu te dei?
_Desculpa, mãe.
_Então como é que se diz?
_Sim, senhora. O que queres?
_Muito bem. Quero que antes que sai, escoves os dentes?
_Ahh, não.
_Por que, não?
_Escovar dente. Pra que isso?
_Pra não ficar com a boca suga.
_Pronto.
_Não senhor. Esse pano não limpa a boca. Tu acha que esfregar um pano no rosto limpa?
_Não limpa, não?
_Claro que não. Procura já escovar esses dentes.
_Tá, bom.
_E não faz essa cara. Não tenho medo de cara feia.
_Tá, mãe.
_Escovou?
_Sim
_Limpou os dentes lá do fundo?
_Limpei
_E os da frente?
_Também. Posso sair agora?
_Só quando você me ajudar a lavar as louças.
_Lavar louça, mãe?
_Isso mesmo. Tem coisa mais importante pra fazer?
_Sim. Tenho que jogar bola.
_O que? Foi isso que escutei?
_O que, mãe?
_Você disse que vai enxugar a louça enquanto lavo?
_Foi, mãe.
_Cuidado com esse prato.
_Tá.
     Depois de um tempo. O filho fala:
_Pronto. Enfim acabou.
_Pronto, filho. Agora você pode ir jogar bola.
_Agora não dá mais.
_Mas por que?
_Ora por que?
_O que foi? Não era que queria? Jogar bola com seus amigos?
_Era.
_E qual é o problema?
_Já tá tarde.
_E o que que tem?
_Eles já foram embora.
_Ah meu filho. E agora?
_Vou assistir televisão..
_Não senhor. Já que não vai jogar bola. Vá já se deitar.
_Não, mãe. Deixa eu assistir televisão.
_Dormir, já.
_Tá bom.
    A tarde chega e o menino acorda:
_Tchau,  mãe.
_Pra onde pensas que vai?
_Vou empinar pipa.
_Com quem?
_Com meus amigos
_Quais?
_Aqueles da bola.
_Então, tá bom.
_Tchau, mãe.
_Ei?
_Sim senhora. O que queres?
_Cadê a benção?
_Ai, mãe. Que mico
_Mico? Tomar benção pra mãe?
_É. Ninguém mais faz isso.
_Mas você faz. Cadê?
_Benção minha mãe?!
_Deus te abençoe, filho. Toma cuidado.
_Tá, mãe.
     Depois de certo tempo. No final da tarde a mãe recebe uma noticia.
_Seu filho faleceu. Um carro o atropelou quando ele correu pra pegar uma pipa.


            Aproveite cada minuto ao lado de sua mãe. Nunca se sabe o que vai acontecer assim que você abrir a porta. "Tô saindo". 





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